Ministro da Fazenda comentou a ata da última reunião do Copom, divulgada nesta terça-feira, que traz detalhes sobre a decisão de interromper o ciclo de corte de juros. Na semana passada, BC manteve a taxa Selic estável em 10,50% ao ano.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (25) que a pressão inflacionária decorrente das enchentes no Rio Grande do Sul, citadas na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) como fonte de preocupação, afetam a inflação de curto prazo.
“E o horizonte do Banco Central é de mega e longo prazo. Não faz muito sentido levar em consideração o que está acontecendo em função do Rio Grande do Sul para fins de política monetária, porque o juro de hoje está afetando 12, 18 meses para frente”, declarou o ministro.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu, por unanimidade, interromper o ciclo de corte dos juros básicos da economia – que vinha desde agosto do ano passado. A taxa Selic foi mantida em 10,50% ao ano.
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Na ata da reunião, divulgada hoje mais cedo, o Copom avaliou que “eventuais ajustes futuros” na taxa de juros, com possíveis aumentos na Selic, “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Questionado se isso significa uma indicação de que a taxa Selic pode subir nos próximos meses, para tentar conter o crescimento das expectativas de inflação, Haddad avaliou que o documento trata apenas da interrupção do processo de queda do juro.
“Eventuais ajustes se for necessário. Sempre vai acontecer, né? O que é importante frisar é que a diretoria [do BC] fala numa interrupção do ciclo [de redução dos juros]. E me parece que essa é uma diferença importante a ser salientada, tá bom”, afirmou Haddad.
Em análise divulgada nesta terça, o Itaú avaliou que a ata do Copom trouxe, como esperado, “o racional para o fim do ciclo de flexibilização e, acertadamente, reforçou a mensagem de unanimidade na decisão”.
Disse, ainda, que, ao abordar o balanço de riscos para a inflação, “o tom das autoridades foi um pouco mais duro”.
“Por ora, seguimos com a visão de que o Copom manterá a taxa Selic inalterada em 10,50% a.a. durante todo o horizonte de política monetária [de seis a 18 meses]. Mas nada nesta ata sugere que o próximo movimento da Selic será de queda“, avaliou o Itaú, em comunicado.
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Ata do Copom
Na ata do Copom, o Banco Central também informou que o controle das estimativas de inflação, que estão em alta, requer uma “atuação firme” da autoridade monetária, e acrescentou que se manterá “vigilante”.
“Em sua conclusão, o Comitê avalia que o cenário prospectivo [de expectativas para o futuro] de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma taxa de juros mais elevada”, acrescentou.
E completou: “Ao fim, concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária mais contracionista e mais cautelosa, de modo a reforçar a dinâmica desinflacionária”.
Recados do Copom
- Rio Grande do Sul: O BC informou que alguns integrantes do Copom mostraram maior preocupação com a inflação de alimentos no curto prazo, destacando não só o efeito das enchentes do Rio Grande do Sul, como também revisões nos preços de alimentos em outras regiões. O Ministério da Fazenda já admitiu que a tragédia no Rio Grande do Sul deve pressionar a inflação neste ano.
- Inflação de serviços: O Copom segue mostrando preocupação com a inflação de serviços. “Parte do debate se concentrou na trajetória mais recente da inflação, em que a inflação de bens industriais e de alimentação no domicílio deixa de contribuir para a desinflação nesse estágio do processo desinflacionário. Concomitante a isso, a inflação de serviços, que tem maior inércia, assume papel preponderante na dinâmica desinflacionária no estágio atual”, acrescentou o BC.
- Nível de atividade e mercado de trabalho: O BC avaliou que o mercado de trabalho e a atividade econômica, em particular o consumo das famílias, têm surpreendido e, também, ” tem apresentado maior dinamismo do que o esperado”.
“O comitê novamente avaliou que há surpresas recorrentes apontando para elevado dinamismo do mercado de trabalho, corroborando um cenário de mercado de trabalho apertado”, acrescentou.
- Contas públicas: O Copom informou que “monitora com atenção” como os desenvolvimentos recentes das contas públicas, com proposta de ampliação dos gastos por parte do governo, impactam as decisões sobre a taxa de juros. Em tese, maiores gastos públicos tendem a pressionar mais os preços.
“O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária. Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”, acrescentou o BC, na ata do Copom.
Ata deixa cenário ‘em aberto’, diz Galípolo
Após a divulgação da ata, o diretor do Banco Central Gabriel Galípolo afirmou que o Copom não quer fazer nenhum tipo de “sinalização, compromisso ou guidance [projeção]” sobre qual deve ser o futuro dos juros à frente.
“Pretendemos deixar em aberto para ver como as coisas vão se desdobrar a partir de agora”, afirmou o diretor em live da Warren Investimentos na manhã desta terça.
Ainda segundo Galípolo, há um cenário que vem se consolidando, de uma economia mais resiliente e um mercado de trabalho mais consolidado, que permite “intuir” um processo de desinflação mais lento.
O diretor ainda citou que esse é um cenário global, que envolve questões como mudanças no comportamento do consumo, desinflação em setores industriais e de alimentos e o fato de ter existido um impulso fiscal relevante durante o período da pandemia, seguido por uma alta de juros ao redor do planeta.
“Todos esses fatores vêm sendo considerados nas análises, junto […] da realocação das cadeias produtivas ao redor do globo”, acrescentou.
Por fim, Galípolo também reiterou que a divergência vista na reunião retrasada, quando houve um dissenso em relação ao tamanho do corte que deveria ser feito na Selic, não era uma “divergência de diagnóstico”.
“Essa ata já é uma reafirmação e incorporação nesse sentido de coesão do que a gente tem aqui dentro, de visões e leituras do que está acontecendo dentro do BC”, disse o diretor, reafirmando que o documento traduz “plenamente” sua avaliação.